quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Vivendo o turismo

Em frente à W3, no setor de Rádio e Televisão Norte de Brasília, é possível identificar três mesas e um assento de dois lugares dispostos nos cantos de uma sala, mais especificamente da sobreloja 28 do edifício Radio Center, como um cartão de visitas de uma agência de turismo. Apesar da simplicidade, que contrasta com a espalhafatosa sobreloja 27, sede da Superintendência Nacional da IDB - Igreja de Deus no Brasil, alguns adesivos colados na porta identificam claramente o nome da agência: Global Turismo.

Há oito anos, Carmen Gloria Cárceres Pineda, 49 anos e natural de Santiago, no Chile, foi convidada pelo amigo Nivaldo Freitas para trabalhar na Global Turismo. Carmen se encarrega de quase todo o trabalho da agência: das excursões, da venda de pacotes de viagem, dos relatórios das passagens e companhias aéreas, do caixa e de toda a parte de escritório. A conversa é interrompida por diversos telefonemas, o que não impede que, entre uma ligação e outra, ela se disponha a falar sobre sua vida e seu trabalho. Apesar de à primeira vista parecer uma pessoa fechada, não é preciso mais do que um “bom dia” para reconhecer a simpatia sem tamanho da Chilena. O sotaque marcante e uma mistura do português brasileiro com algumas palavras em espanhol entretem o ambiente infestado com o cheiro de gordura da hora do almoço, que vem de um restaurante chinês logo abaixo.

Carmen chegou ao Brasil com 30 anos de idade, um filho na barriga e outro pendurado no colo. Como seu companheiro Juan Carlos já tinha família no país, os dois vieram tentar a vida na terra do samba depois do fracasso com um negócio próprio de Supermercados. A vontade de trabalhar com turismo partiu das viagens que Juan vazia ao Paraguai para comprar mercadorias e revender no Brasil, e de um curso para guias de turismo que apareceu no SENAC. Assim, em 1996, os dois abriram a singela agência “Carisma Turismo”. Foi destino de supermercado: ou seja, também não deu certo. Mas a chilena, equilibrada e bem mantida sobre seus pequenos pés tamanho 34, não parou por aí e continuou a trabalhar em outras agências até chegar na Global Turismo.

A principal atividade da chilena na agência é o turismo para a terceira idade. É assim que surge a pergunta informal: “quando foi que começou a se interessar por essa área?”. “Quando eu fiz a primeira excursão com a terceira idade” responde a chilena. Foi em 1998, em uma excursão para o Canadá e Nova Iorque. Desde então, Carmen trabalha com todas as áreas do turismo, mas com especialização em Terceira Idade. Tudo o que aprendeu a respeito foi na prática. “É um público a que você se dedica, faz um bom trabalho e é reconhecido”. É possível criar uma imagem a partir das palavras e do entusiasmo de Carmen quando ela fala a respeito do seu projeto de criar uma casa de repouso para idosos, trabalho de um curso de elaboração de projetos oferecido pelo Sindicado de Guias.

A satisfação fica estampada na face de Carmen quando ela fala de “seus velhinhos”. A maioria é do sexo feminino, o homem que vai viajar geralmente acompanha a esposa ou procura namorada. “Você faz um bem para a pessoa. Ali surgem relacionamentos entre pessoas de 70 e 80 anos, alguns até mais” diz a colega Paula Rejane, com quem trabalha desde 2006 e conheceu a partir das viagens com Terceira Idade. “Às vezes, ficamos competindo de quem as idosas gostam mais” brincam as duas. Ao repousar o telefone no gancho, um comentário curioso: “Mais um espião”. Apesar do meu estranhamento, rendeu alguma graça durante a explicação. Segundo ela, muitas vezes a concorrência liga para saber seus preços e comparar, então você “saca na hora”. Carmen e Paula já sabem: quem costuma ligar já é cliente, ou foi indicado por alguém. É só perceber como a pessoa fica sem jeito do outro lado da linha ao perguntarem seu telefone para retorno. Depois da troca de palavras, a despedida, os abraços e a vontade de embarcar em outra viagem, talvez uma como as dos pôsteres espalhados pela agência.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A oca de concreto da capital

Memorial dos Povos Indígenas tem mais a oferecer do que esperam os brasilienses

Não é tão difícil identificar, de longe ou de perto, uma oca de concreto localizada entre duas pistas de uma das principais via da capital federal. O memorial dos povos indígenas, como outros monumentos de Brasília, foi projetado em 1987 pelo arquiteto Oscar Niemeyer, inspirado na taba indígena dos índios Yanomami. O lugar, que funciona efetivamente como museu do índio há somente 10 anos, possui um acervo permanente com 380 peças cedidas pelos antropólogos Darcy Ribeiro, Berta Ribeiro e Eduardo Galvão. O museu está aberto para visitação de segunda a domingo.

Segundo a guia de turismo Paula Funchal, o Memorial dos Povos Indígenas é um dos lugares pelos quais os visitantes menos demonstram interesse. Raimundo Nonato de Oliveira, 63, trabalha no museu há 4 anos e acredita que a razão dessa falta de interesse é a localização do museu. “Para quem vem de ônibus é difícil o acesso, só tem estacionamento para carro, e em horário de pico o eixo é mais difícil” conta o funcionário, que acredita também que a procura pelo museu é baixa. A estimativa feita por Raimundo é de 100 a 150 visitas por dia, com algumas mudanças a depender da época do ano.Apesar das dificuldades, o brilho dos artigos indígenas expostos no museu é diferente daquele que reluz de faixas presidenciais, lantejoulas, fardas e medalhas militares. Ele tem o brilho próprio da cultura, da arte e da sabedoria dos primeiros habitantes do país, influência direta e indireta no Brasil que existe hoje. Uma funcionária que não quis dar entrevista afirmou que, desde a mudança do diretor, há dois anos, o museu tem mais interação e mais freqüentadores. “Por ser índio mesmo, ele tem mais capacidade de organizar” afirma. O atual diretor do Memorial dos Povos Indígenas, Marcos Terena, primeiro índio na história a administrar o memorial, assumiu em agosto de 2007 e, desde então, trabalha na interação entre o Memorial e os próprios povos indígenas, com exposições culturais, diálogos entre indígenas, encontros, celebrações do Dia do Índio – 19 de abril – e do Dia Internacional dos Povos Indígenas – 9 de Agosto.

Mas nem tudo foi um rio de penas e cocares. Cobiçado durante muitos anos, o prédio destinado aos povos indígenas é “muito bonito para ser Museu do Índio”, afirmou José Aparecido de Oliveira, governador na época da inauguração. De Arte Moderna a Brasília, muitos museus tentaram ser instalados sem sucesso no espaço. Somente em 1995, com uma série de manifestações e rituais indígenas no prédio, esses povos puderam ter de volta seu espaço, tombado em 2007 pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Liberdade sobre duas rodas

Estudantes da UnB incentivam um meio de transporte alternativo e menos poluente: as bicicletas coletivas

Durante o período de aulas, a Universidade de Brasília enfrenta um problema cada vez mais comum na capital federal: o excesso de carros. A conseqüência mais visível é a falta de vagas nos estacionamentos da universidade, entretanto, estudantes afirmam que o problema dos carros vai além, como congestionamentos e a emissão de gases poluentes. No segundo semestre de 2007, o projeto Bicicleta Livre, idealizado por Davi Ramos, na época estudante de Educação Física, começou a entrar em andamento como alternativa aos automóveis e incentivo ao uso de um meio de transporte menos poluente.

O projeto consiste em um sistema de bicicletas identificadas pintadas de amarelo e espalhadas pelo campus. As bicicletas podem ser usadas por qualquer pessoa dentro do espaço da Universidade e não existe burocracia para o uso delas, desde que não saiam do campus Darcy Ribeiro e sejam devolvidas ao lugar onde foram emprestadas. O sistema das bicicletas coletivas foi inspirado no grupo Provos, da Holanda, que, para estimular o uso da bicicleta como meio de transporte, espalharam pela cidade de Amsterdã várias bicicletas pintadas de branco. Sob a acusação da polícia de estimular o roubo, as bicicletas passaram a ter cadeado com a senha identificada na própria bicicleta. Em Brasília houve uma tentativa de implantar a mesma ação, através de um sistema de bicicletas públicas batizado de Mobicicleta, cuja licitação foi suspensa pelo Ministério Público. Para Yuriê Batista, 24, estudante de Geografia da UnB e voluntário do Bicicleta Livre, a decisão do Ministério Público foi boa, já que o projeto do governo não previa nenhum debate ou discussão com a sociedade.

O Bicicleta Livre da UnB, no final de 2007 e em 2009, se tornou parte da Agenda Ambienta da Universidade, como projeto de extensão contemplado com bolsas de até R$5.000. O primeiro apoio veio da Faculdade de Educação física, que cedeu algumas bicicletas, ferramentas e um espaço físico para a manutenção delas. A proposta do Bicicleta Livre é que, até o final do ano, 100 bicicletas estejam circulando pelo Campus. Com o apoio da rede Transamérica, e a ONG Rodas da Paz, várias bicicletas foram doadas, inclusive infantis. O acordo é que os voluntários possam ficar com as bicicletas doadas, e, em troca, reformem as bicicletas infantis que serão doadas a crianças carentes pelo projeto da Transtrenó.

“Não tem ninguém aqui que sabe mesmo ou é mecânico, a maioria acaba aprendendo aqui mesmo, se ajudando” declara Yuriê Batista. Todos os sábados, os participantes e voluntários do Bicicleta Livre realizam uma oficina na Faculdade de Educação Física, para reformar e consertar as bicicletas. O estudante Yanã Batista, 21, estudante de Geografia, entrou há poucas semanas no projeto e afirma que aprendeu muita coisa sobre as bicicletas durante as oficinas. “Me amarro em bicicleta e sempre vim com ela para a faculdade” afirma. O mesmo caso aconteceu com Molina Milanez, 25, estudante de psicologia, que entrou no projeto junto com o namorado Eduardo. “Não tinha nenhuma noção de manutenção, aprendi no projeto” diz.

Apesar de não ser estudante da UnB, Renato Zerbinato, paulista de 32 anos, é voluntário do projeto Bicicleta Livre. Renato é membro da ONG Rodas da Paz e adepto da bicicleta desde pequeno. Com o apoio do Bicicleta Livre e realizado pelo Rodas da Paz, o dia 22 de Setembro, dia mundial sem carro, terá atividades como a tradicional Bicicletada e o Desafio intermodal – saindo do Guará e com destino à “Praça das Bicicletas, entre o Museu e a Biblioteca Nacionais, 9 pessoas vão testar os limites de cada meio de transporte: bicicleta, carro, ônibus, moto e metrô. A intenção é identificar o meio mais barato, mais eficiente, mais rápido e menos poluente. Em outros lugares do mundo em que foi realizado o desafio, na maioria deles a bicicleta foi considerado o melhor meio de transporte.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Brasil pela Anistia no UniCEUB

Centro Universitário de Brasília promove debate sobre a Anistia

Às 9 horas do dia 25 de Agosto de 2009, o Centro Universitário de Brasília – UniCEUB sediou uma mesa-redonda sobre os 30 anos da Lei da Anistia no Brasil, onde também foram distribuídos exemplares da edição especial do Esquina, jornal laboratório do curso de Comunicação Social, que falava sobre a Anistia e colhia depoimentos de quem viveu a repressão da ditadura militar, um projeto idealizado pela estudante Maria Olívia Serejo e coordenado pelo professor Vivaldo de Sousa. Idealizado por estudantes de Direito e Comunicação Social, e com o apoio das respectivas coordenações de curso, o debate, que incluía jornalistas, juristas e um cineasta, se estendeu até às 11 horas e 20 minutos do mesmo dia. Foi um debate caloroso sobre a mobilização do povo brasileiro durante a repressão da ditadura, quando muitos entregaram a vida pela liberdade e pela democracia no país.

A Lei da Anistia foi sancionada no dia 29 de Agosto de 1979, e assegurava Anistia a presos e perseguidos por crimes políticos. Entretanto, a luta do povo brasileiro começou antes, em 1968, com movimentos pró-anistia liderados principalmente por estudantes, artistas, intelectuais e jornalistas. Artistas ainda hoje muito conhecidos e apreciados, como Chico Buarque e Vinícius de Morais, se juntaram na memorável Passeata dos Cem Mil em que, através da arte e da musica, a democracia se mostrava o maior desejo dos brasileiros. A Passeata teve retorno da ditadura através do Ato Institucional nº 5, que fechou o Congresso Nacional para legislar por decreto e endureceu o regime.

A repressão não aconteceu somente nos porões ou nos quartéis, mas também na própria sociedade. Muitos militantes foram reprimidos por vizinhos ou demitidos de seus empregos pelo simples fato de apoiarem as manifestações ou serem de esquerda. Projetos de vida foram interrompidos com os exílios, as perseguições, as torturas e os assassinatos promovidos por um Estado que deveria existir para proteger o cidadão. Com toda a carga de culpa do Estado e os danos que a ditadura militar causou ao povo brasileiro, foi criada, em 2001, a Comissão de Anistia, com o intuito de reparar financeiramente os perseguidos políticos da época.

O debate sobre a Anistia incitou pouco a participação dos estudantes, mas rendeu uma leva de olhares atentos. Apesar de o Brasil ter se libertado das amarras da ditadura militar, a democracia plena se conquista em passos graduais. Depois de 30 anos, ainda é preciso manter vivo o debate sobre a repressão sofrida pela população e a força que a mobilização do povo teve nesse processo. A apatia e o descaso com a história apenas favorece uma democracia de fachada, enquanto o povo fica nos bastidores. Para que a democracia seja consolidada, é preciso sinalizar para a população, sejam estudantes ou não, que a memória não pode se desfazer das lutas que precederam a vitória do Brasil pela Anistia, e que as investigações do período da ditadura militar ainda não terminaram.

terça-feira, 9 de junho de 2009

O peso do conhecimento

Especialistas alertam que o peso das mochilas pode trazer deformidades na coluna

A caminho da escola, umitem essencial para a rotinaescolar de crianças e adolescentes é a mochila nas costas,nos ombros ou nas mãos, recheadas de cadernos e livros didáticos. A quantidade de livros para alunos no ensinomédio chega de treze a quinzeno total, podendo ser mais de um por disciplina, distribuídos entre as cinco a seis aulas ministradas por dia. O mesmo problema se aplica a estudantesdo ensino fundamental, embora o número de livros seja menor. Essa quantidade se complementa ao peso de cadernos, dicionários, canetas, lápis, borrachas e outros utensílios.

O que muitas vezes não passa pela cabeça dos alunos é que esse material - que nem todos os dias é utilizado em sala de aula, mas precisa estar sempre à disposição -, quando em excesso, pode ser prejudicial para a formação física dosjovens em fase de desenvolvimento. O peso do material escolar pode causar problemasna coluna que, a longo prazo, prejudicam a postura e podem trazer deformidades permanentes.

Segundo a fisioterapeuta Marinha Tereza Alves Nascimento, formada pela Faculdadede Fisioterapia de Patrocínio (MG), o uso inadequado de material escolar com excesso de peso ou o mau posicionamento podem causar dores musculares e alterações na coluna, como a escoliose (desvio na coluna vertebral em formato de “S”) e a hipercifose (aumento na curvatura da região dorsal, localizada à altura do tórax).

As deformidades podem ser tratadas quando são percebidas no início, devido a dores ou curvaturas na coluna. No entanto, depois que o adolescente atinge a idade óssea, o tratamento pode ser mais demorado e menos eficiente. Isso acontece porque os músculos das crianças são mais maleáveis e, por isso, podem recuperar seu formato com mais facilidade. Com o passar do tempo, o músculo vai perdendo essa capacidade, dificultando o tratamento realizado já na vida adulta. “O que uma criança recupera em alguns meses, um adulto pode levar até anos”, afirma a fisioterapeuta, que ainda lembrou que as dores de coluna e a má postura podem prejudicar o rendimento do aluno e aumentar o estresse.

Outro problema encontrado pelo peso excessivo do material escolar está nas alternativas que alguns estudantes encontram para se desviar do problema. O aluno Mário Brandão, 15 anos, afirmou não levar os materiais para a sala de aula por contado peso da mochila. “Eu só carrego caderno e agenda”, disse ele. Uma estudante que não se identificou afirmou que, às vezes, deixa os livros em casa para pegar emprestados os de outra turma. Atitudes como essa podem influenciar o desenvolvimento educacional, uma vez que os estudantes deixam de levar para as aulas o material necessário.

O que fazer?

A primeira coisa é tomar consciência de que o peso excessivo do material escolar pode acarretar, além de dores, deformidades acentuadas na coluna. O fisioterapeuta Márcio Oliveira, professor do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), afirma que crianças e adolescentes conseguem carregar até no máximo 10%o peso de seu corpo. Canetas coloridas e lápis em excesso podem ser um luxo desnecessário que vai pesar nas costas. O ideal é levar consigo apenas o material exigido para as aulasque serão ministradas no dia.

Outra solução é incentivar atividades de alongamentodo corpo mesmo fora das aulas de educação física. “O corpo alongado reage melhor ao estresse”, afirma a fisioterapeuta Marinha Tereza Alves Nascimento.

Márcio Oliveira aponta como solução a escolha e o uso adequado das mochilas. Elas devem ser utilizadas com as duas alças nas costas, na altura das costas e não do quadril, ou, no caso das mochilas de apenas uma alça, alternando de hora em hora o lado em que carregara mochila, para que não ocorra inclinação da coluna para o lado. Carrinhos de mão e mochilas de rodinhas são outra solução para evitar o peso nas costas, assim como adotar a utilização de armários nas escolas, para poder guardar o material em local seguro e sem precisar se ausentar das dependências do colégio.

Quando já existir o desvio da coluna, o problema é resolvido através de fisioterapia e RPG –Reeducação Postural Global. O tratamento atua na capacidade do músculo de se alongar e voltar ao seu estado inicial. Quandoo peso faz o corpo ir para um lado, o tratamento faz o processo inverso, através de um alongamento que inclina o corpo para o lado contrário.

Armários

Algumas instituições particulares de ensino oferecem armários que podem ser alugados mediante o pagamentode uma taxa anual. Exemplo disso são os colégios CEUB e Galois, que disponibilizam armários a seus alunos mediante o pagamento de uma anuidade. O preço varia entre R$95 e R$100, dinheiro que é utilizado para a manutenção desses armários. Apesar de adotarem um mesmo método, a administração dele em cada escola é feito de uma maneira diferente.

O Colégio Ceub instalou os armários por uma necessidade do público interno, conforme o assessor da diretoria do colégio, professor Giovani Guevara. Com a anuidade a R$95, ele afirma que tem em torno de 200 armários alugados, e que o valor é capaz de suprir todas as necessidades de manutenção. Uma solução que não é condenável nos colégios, embora esteja fora do contrato de aluguel do armário, é oc ompartilhamento de um único armário entre os estudantes, sendo dividido entre eles o valor da anuidade.

O Galois tomou a decisão de terceirizar o aluguel de armários e passar a responsabilidade para a Papelaria Brito. O colégio tinha dificuldades em administrar os armários, quase sempre terminando em prejuízo, até o início de 2008, quando a Brito assumiu a responsabilidade pelos armários.

A Papelaria Brito investiu na instalação de novos armários, mais resistentes e de fácil manutenção, e passou cobrar um valor de R$105 por ano. Com essa anuidade são feitos todos os reparos necessários em caso de dano na estrutura ou a troca de fechaduras, e a manutenção que é feita uma vez ao ano. A Papelaria Brito conta com 1.012 armários em todo o colégio Galois, mas somente 800 estão alugados. Enquanto isso, o Colégio Ceub possui 200 armários, todos eles ocupados. Apesar das diferenças de demanda e administração entre os colégios, a solução é comum: o uso de armários facilita a rotina do aluno e evita o carregamento de muito peso pelos estudantes.


Matéria escrita para a disciplina Técnicas em Apuração, entrevista e Reportagem, no 1ºsemestre de 2009. Disponível também em PDF.

Assunto: As consequências do excesso de peso nas mochilas de crianças e adolescentes, e o que profissionais de saúde acham a respeito.

Leia on-line clicando AQUI ou através do link abaixo:

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Revolução dos Cravos e a Literatura Portuguesa

O dia 25 de abril de 1974 foi um marco histórico para Portugal. As ruas, antes cobertas e reclusas pelo medo imposto por meio das repressões da ditadura salazarista, foram ocupadas por militares munidos de cravos ao invés de balas – daí o nome que foi atribuído ao movimento, Revolução dos Cravos -, em uma das poucas ações pacíficas bem-sucedidas no país. A intenção do Movimento das Forças Armadas era, desde o início, garantir que o vermelho atribuído ao processo fosse somente o das flores. O governo que até então regia Portugal, o Estado Novo, havia se instalado com a promessa de atender aos ideais da sociedade portuguesa, desgastada pela sucessão de perdas econômicas e territoriais. No entanto, o que antes parecia uma solução utópica para os problemas de Portugal, acabou se tornando a principal opositora à liberdade de expressão do país.

Durante o período de ditadura, a censura intimidava a sociedade, perseguia os intelectuais e inibia as produções artísticas. Sob essas condições, as manifestações publicadas, quando conseguiam passar pelo filtro dos censores, apareciam escondidas numa linguagem alegórica e coberta de metáforas. Com o fim do governo fascista fundado por António de Oliveira Salazar, a produção artística se tornou mais intensificada, ou mesmo mais divulgada, uma vez que foram eliminados os recursos opressores que impediam a livre manifestação de idéias através das artes. Essa abertura, apesar da influência que teve nas obras e publicações, não significou uma mudança instantânea no processo de criação literária e artística, mas sim uma continuidade do que já estava sendo construído, antes e depois da revolução, em termos de identidade nacional. Portugal estava em busca de uma vestimenta exclusiva a que pudesse atribuir-se, uma forma de expressão que fosse considerada genuinamente lusitana. O romance e as demais manifestações artísticas atribuídas ao período pré e pós Revolução dos Cravos foi que definiram essa identidade, que encontrou na linguagem intertextual, nos múltiplos discursos e na pluralidade dos meios ficcionais, sua maneira própria e única de se expressar.

O tema mais recorrente nas obras ficcionais era a Guerra Colonial na África, que durou um período compreendido entre 1961 e 1975. Diferente da maneira pacífica como se deu a Revolução dos Cravos, a Guerra Colonial envolveu muitas perdas e derramamento de sangue. As produções literárias a respeito do assunto focavam no teor crítico da Guerra, como uma forma de recuperar e retratar, na ficção, a sucessão de barbáries cometidas por Portugal contra a África, que teria sido pouco falada, ou mesmo omitida, pelos portugueses. O romance reflete um momento de mudanças e questionamentos próprio do país na época, que procurava sua auto-definição. Essa mistura entre a História e a Ficção, e a busca por dados e vivências que fossem reais, não impediu que a linguagem criativa utilizada nas obras fosse explorada ao máximo, dando forma a uma característica que poderia ser incorporada como literatura portuguesa.

José Saramago também participa desse contexto de metaficção historiográfica. Diante da característica do romance envolvido com a Revolução dos Cravos, em que as narrativas encontravam histórias reais incorporadas em personagens fictícios, Saramago criou suas personagens baseadas na desmistificação dos heróis. São pessoas que foram esquecidas ou relegadas pela História Oficial, através das quais o autor procura tratar, de forma ideológica e com caráter de denúncia, a opressão dos tempos e a constante luta pela liberdade. A leitura das obras de José Saramago impõe um acompanhamento contínuo da narrativa, em que o leitor se identifica com a capacidade do narrador de se transmutar em outro e aderir a diferentes personagens, focalizando e dando voz a cada uma delas, através da pluralidade de narrativas características do romance desencadeado após a revolução de abril em Portugal. Saramago trata de pessoas reais por trás da ficção, que engloba o contexto português tanto do passado quanto do presente, através de uma linguagem experimentativa que busca a reflexão sobre valores e a representação do universal e do plural.

O romance português encontrou, no contexto tanto anterior quanto posterior à Revolução dos Cravos, a sua característica marcante e a sua identidade. Uma literatura que envolve toda a vivência dos portugueses da época da ditadura salazarista, a passagem pela revolução e os dias de hoje, através de uma linguagem metafórica e plural. O pensamento acerca da história e a busca por sua recuperação, nos altos e baixos, também marcam as idéias artísticas das produções essencialmente portuguesas.



BIBLIOGRAFIA

LIVRO

SECCO, Lincoln. A Revolução dos Cravos: a crise do império colonial português. São Paulo: Alameda, 2004.

ARTIGOS (consultados pela internet)

FLORY, Suely Fadul Villibor; CAMOCARDI , Elusis Mrian. A “Revolução dos Cravos” e suas representações na mídia e na literatura. COMUNICAÇÃO: VEREDAS, Ano III - Nº 03 - Novembro, 2004

ROANI, Gerson Luiz. Sob o vermelho dos cravos de abril – Literatura e Revolução no Portugal contemporâneo. Revista Letras, Curitiba, n. 64, p. 15-32. set./dez. 2004. Editora UFPR

PÁGINAS NA INTERNET

http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_dos_Cravos
http://www.unificado.com.br/calendario/04/cravos.htm

sábado, 7 de março de 2009

Natureza Urbana

Horta comunitária na 713 norte combina literatura e meio ambiente

Em pleno século 21, com o caos urbano e a correria da vida cotidiana, a convivência com a natureza parece quase nula. No entanto, cenas como a existente da 713 norte chamam a atenção e a curiosidade das pessoas que passam. Uma horta comunitária orgânica foi instalada em um terreno em frente à casa da goiana Sandra Fayad, que foi quem trouxe e ideia para a asa norte. O mais curioso, no entanto, são as garrafas pet penduradas ao redor da estrutura da horta, com poesias escritas pela própria Sandra sobre plantas e preservação ambiental. A união entre a literatura e a horticultura urbana orgânica resultou na horta comunitária que hoje reúne mais de 100 espécies diferentes de plantas.

Sandra é natural de Catalão (GO) e escreve desde pequena. Os poemas espalhados por entre as folhas da horta são do seu livro “Animais que plantam gente”, publicado em 2008 pela editora LGE. Seu trabalho com a horta começou em 1998, no sítio Capuchinha no Lago Oeste. Em 2006, Sandra trouxe seu trabalho para o ambiente urbano. As plantas, dentre elas muitas medicinais, já tinham matrizes adaptadas para o cerrado, pois vieram de outras regiões. O processo de adaptação das plantas, diz Sandra, é como o das pessoas: no início é ruim, mas depois se adapta.
A horta comunitária trabalha com um sistema de auto-atendimento. Mudas de plantas estão disponíveis a preços entre R$1,00 e R$3,00, que devem ser depositados dentro da caixa de correios. Os produtos da poda estão disponíveis gratuitamente, a exemplo do capim santo. A horta sobrevive do trabalho e da cooperação de voluntários, e inclusive de vizinhos que doam materiais recicláveis, como caixas de leite vazias para comportar as plantas, e restos de alimentos para a compostagem e para alimentar as minhocas que adubam a terra.

Encantado pelo trabalho realizado na horta, Daniel Arantes, administrador do espaço Swaha, criou um projeto chamado Erva Viva. A intenção do projeto é buscar voluntários com mais consciência ecológica para trabalharem em um ambiente de respeito aos animais e às plantas, uma interação que Sandra Fayad julga fundamental. “Nas outras vezes que pessoas reagiram como se as plantas fossem mortas, reagiram mal” comentou ela. O projeto começou em março deste ano, também para informar os benefícios da horta para a sociedade e recuperar a medicina orgânica utilizada antigamente. Daniel pretende transformar a horta em uma “capa de revista”, modelo em Brasília, até o mês de novembro, com a colaboração de uma equipe com paisagistas e arquitetos.

Com os voluntários, o projeto prevê um final de semana por mês reservado ao trabalho na horta. Na sexta-feira, é realizada uma palestra sobre temas de conscientização, enquanto no sábado há um curso de educação e valores humanos. O curso é essencial para direcionar, no domingo, as ações da equipe na horta, pois trata de valores internos que devem ser despertados, como a não-violência contra o meio ambiente. O Senar DF se propôs a organizar três cursos para o projeto: horticultura, utilização e trato de ervas orgânicas e compostagem.