terça-feira, 15 de setembro de 2009

A oca de concreto da capital

Memorial dos Povos Indígenas tem mais a oferecer do que esperam os brasilienses

Não é tão difícil identificar, de longe ou de perto, uma oca de concreto localizada entre duas pistas de uma das principais via da capital federal. O memorial dos povos indígenas, como outros monumentos de Brasília, foi projetado em 1987 pelo arquiteto Oscar Niemeyer, inspirado na taba indígena dos índios Yanomami. O lugar, que funciona efetivamente como museu do índio há somente 10 anos, possui um acervo permanente com 380 peças cedidas pelos antropólogos Darcy Ribeiro, Berta Ribeiro e Eduardo Galvão. O museu está aberto para visitação de segunda a domingo.

Segundo a guia de turismo Paula Funchal, o Memorial dos Povos Indígenas é um dos lugares pelos quais os visitantes menos demonstram interesse. Raimundo Nonato de Oliveira, 63, trabalha no museu há 4 anos e acredita que a razão dessa falta de interesse é a localização do museu. “Para quem vem de ônibus é difícil o acesso, só tem estacionamento para carro, e em horário de pico o eixo é mais difícil” conta o funcionário, que acredita também que a procura pelo museu é baixa. A estimativa feita por Raimundo é de 100 a 150 visitas por dia, com algumas mudanças a depender da época do ano.Apesar das dificuldades, o brilho dos artigos indígenas expostos no museu é diferente daquele que reluz de faixas presidenciais, lantejoulas, fardas e medalhas militares. Ele tem o brilho próprio da cultura, da arte e da sabedoria dos primeiros habitantes do país, influência direta e indireta no Brasil que existe hoje. Uma funcionária que não quis dar entrevista afirmou que, desde a mudança do diretor, há dois anos, o museu tem mais interação e mais freqüentadores. “Por ser índio mesmo, ele tem mais capacidade de organizar” afirma. O atual diretor do Memorial dos Povos Indígenas, Marcos Terena, primeiro índio na história a administrar o memorial, assumiu em agosto de 2007 e, desde então, trabalha na interação entre o Memorial e os próprios povos indígenas, com exposições culturais, diálogos entre indígenas, encontros, celebrações do Dia do Índio – 19 de abril – e do Dia Internacional dos Povos Indígenas – 9 de Agosto.

Mas nem tudo foi um rio de penas e cocares. Cobiçado durante muitos anos, o prédio destinado aos povos indígenas é “muito bonito para ser Museu do Índio”, afirmou José Aparecido de Oliveira, governador na época da inauguração. De Arte Moderna a Brasília, muitos museus tentaram ser instalados sem sucesso no espaço. Somente em 1995, com uma série de manifestações e rituais indígenas no prédio, esses povos puderam ter de volta seu espaço, tombado em 2007 pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Liberdade sobre duas rodas

Estudantes da UnB incentivam um meio de transporte alternativo e menos poluente: as bicicletas coletivas

Durante o período de aulas, a Universidade de Brasília enfrenta um problema cada vez mais comum na capital federal: o excesso de carros. A conseqüência mais visível é a falta de vagas nos estacionamentos da universidade, entretanto, estudantes afirmam que o problema dos carros vai além, como congestionamentos e a emissão de gases poluentes. No segundo semestre de 2007, o projeto Bicicleta Livre, idealizado por Davi Ramos, na época estudante de Educação Física, começou a entrar em andamento como alternativa aos automóveis e incentivo ao uso de um meio de transporte menos poluente.

O projeto consiste em um sistema de bicicletas identificadas pintadas de amarelo e espalhadas pelo campus. As bicicletas podem ser usadas por qualquer pessoa dentro do espaço da Universidade e não existe burocracia para o uso delas, desde que não saiam do campus Darcy Ribeiro e sejam devolvidas ao lugar onde foram emprestadas. O sistema das bicicletas coletivas foi inspirado no grupo Provos, da Holanda, que, para estimular o uso da bicicleta como meio de transporte, espalharam pela cidade de Amsterdã várias bicicletas pintadas de branco. Sob a acusação da polícia de estimular o roubo, as bicicletas passaram a ter cadeado com a senha identificada na própria bicicleta. Em Brasília houve uma tentativa de implantar a mesma ação, através de um sistema de bicicletas públicas batizado de Mobicicleta, cuja licitação foi suspensa pelo Ministério Público. Para Yuriê Batista, 24, estudante de Geografia da UnB e voluntário do Bicicleta Livre, a decisão do Ministério Público foi boa, já que o projeto do governo não previa nenhum debate ou discussão com a sociedade.

O Bicicleta Livre da UnB, no final de 2007 e em 2009, se tornou parte da Agenda Ambienta da Universidade, como projeto de extensão contemplado com bolsas de até R$5.000. O primeiro apoio veio da Faculdade de Educação física, que cedeu algumas bicicletas, ferramentas e um espaço físico para a manutenção delas. A proposta do Bicicleta Livre é que, até o final do ano, 100 bicicletas estejam circulando pelo Campus. Com o apoio da rede Transamérica, e a ONG Rodas da Paz, várias bicicletas foram doadas, inclusive infantis. O acordo é que os voluntários possam ficar com as bicicletas doadas, e, em troca, reformem as bicicletas infantis que serão doadas a crianças carentes pelo projeto da Transtrenó.

“Não tem ninguém aqui que sabe mesmo ou é mecânico, a maioria acaba aprendendo aqui mesmo, se ajudando” declara Yuriê Batista. Todos os sábados, os participantes e voluntários do Bicicleta Livre realizam uma oficina na Faculdade de Educação Física, para reformar e consertar as bicicletas. O estudante Yanã Batista, 21, estudante de Geografia, entrou há poucas semanas no projeto e afirma que aprendeu muita coisa sobre as bicicletas durante as oficinas. “Me amarro em bicicleta e sempre vim com ela para a faculdade” afirma. O mesmo caso aconteceu com Molina Milanez, 25, estudante de psicologia, que entrou no projeto junto com o namorado Eduardo. “Não tinha nenhuma noção de manutenção, aprendi no projeto” diz.

Apesar de não ser estudante da UnB, Renato Zerbinato, paulista de 32 anos, é voluntário do projeto Bicicleta Livre. Renato é membro da ONG Rodas da Paz e adepto da bicicleta desde pequeno. Com o apoio do Bicicleta Livre e realizado pelo Rodas da Paz, o dia 22 de Setembro, dia mundial sem carro, terá atividades como a tradicional Bicicletada e o Desafio intermodal – saindo do Guará e com destino à “Praça das Bicicletas, entre o Museu e a Biblioteca Nacionais, 9 pessoas vão testar os limites de cada meio de transporte: bicicleta, carro, ônibus, moto e metrô. A intenção é identificar o meio mais barato, mais eficiente, mais rápido e menos poluente. Em outros lugares do mundo em que foi realizado o desafio, na maioria deles a bicicleta foi considerado o melhor meio de transporte.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Brasil pela Anistia no UniCEUB

Centro Universitário de Brasília promove debate sobre a Anistia

Às 9 horas do dia 25 de Agosto de 2009, o Centro Universitário de Brasília – UniCEUB sediou uma mesa-redonda sobre os 30 anos da Lei da Anistia no Brasil, onde também foram distribuídos exemplares da edição especial do Esquina, jornal laboratório do curso de Comunicação Social, que falava sobre a Anistia e colhia depoimentos de quem viveu a repressão da ditadura militar, um projeto idealizado pela estudante Maria Olívia Serejo e coordenado pelo professor Vivaldo de Sousa. Idealizado por estudantes de Direito e Comunicação Social, e com o apoio das respectivas coordenações de curso, o debate, que incluía jornalistas, juristas e um cineasta, se estendeu até às 11 horas e 20 minutos do mesmo dia. Foi um debate caloroso sobre a mobilização do povo brasileiro durante a repressão da ditadura, quando muitos entregaram a vida pela liberdade e pela democracia no país.

A Lei da Anistia foi sancionada no dia 29 de Agosto de 1979, e assegurava Anistia a presos e perseguidos por crimes políticos. Entretanto, a luta do povo brasileiro começou antes, em 1968, com movimentos pró-anistia liderados principalmente por estudantes, artistas, intelectuais e jornalistas. Artistas ainda hoje muito conhecidos e apreciados, como Chico Buarque e Vinícius de Morais, se juntaram na memorável Passeata dos Cem Mil em que, através da arte e da musica, a democracia se mostrava o maior desejo dos brasileiros. A Passeata teve retorno da ditadura através do Ato Institucional nº 5, que fechou o Congresso Nacional para legislar por decreto e endureceu o regime.

A repressão não aconteceu somente nos porões ou nos quartéis, mas também na própria sociedade. Muitos militantes foram reprimidos por vizinhos ou demitidos de seus empregos pelo simples fato de apoiarem as manifestações ou serem de esquerda. Projetos de vida foram interrompidos com os exílios, as perseguições, as torturas e os assassinatos promovidos por um Estado que deveria existir para proteger o cidadão. Com toda a carga de culpa do Estado e os danos que a ditadura militar causou ao povo brasileiro, foi criada, em 2001, a Comissão de Anistia, com o intuito de reparar financeiramente os perseguidos políticos da época.

O debate sobre a Anistia incitou pouco a participação dos estudantes, mas rendeu uma leva de olhares atentos. Apesar de o Brasil ter se libertado das amarras da ditadura militar, a democracia plena se conquista em passos graduais. Depois de 30 anos, ainda é preciso manter vivo o debate sobre a repressão sofrida pela população e a força que a mobilização do povo teve nesse processo. A apatia e o descaso com a história apenas favorece uma democracia de fachada, enquanto o povo fica nos bastidores. Para que a democracia seja consolidada, é preciso sinalizar para a população, sejam estudantes ou não, que a memória não pode se desfazer das lutas que precederam a vitória do Brasil pela Anistia, e que as investigações do período da ditadura militar ainda não terminaram.