sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Aceitação do inaceitável

Esta quarta-feira (8) tornou definitiva a decisão do governo quando o presidente Luis Inácio Lula da Silva sancionou a Lei Arouca. Ela prevê a regulamentação do uso de animais como cobaias em experimentações e pesquisas científicas no país, e há 13 anos perambula pelo Senado, onde, em 9 de setembro, conseguiu unanimidade dos votos pela sua aprovação. Enquanto a União Européia avança e determina o fim dos testes em animais na produção de cosméticos em 2009, o governo brasileiro ignora a opinião do público e aprova uma lei que nem mesmo tem o conhecimento de parte significante da população. A mobilização de protetores dos animais realizada no dia 18 de setembro em frente ao Congresso, que estendia um varal com cerca de 23 mil assinaturas contra a aprovação da lei sem que haja discussão com o público, não teve a visibilidade merecida. Nada de diferente para o Brasil, que sempre foi lixo industrial dos países desenvolvidos e passará a terceirizar essa prática, já condenável em outras partes do mundo.

A realidade mórbida da vivissecção e experimentação animal ainda é ofuscada pelo interesse de cientistas e indústrias farmacêuticas. A desculpa utilizada é a necessidade da regulamentação da prática e do estabelecimento de normas e critérios éticos – fantasia criada para iludir o povo que, ingênuo, busca uma relação harmoniosa entre seres humanos e a natureza. Mas enquanto houver exploração, essa relação não existe. Não há como falar em ética quando o que está em jogo é a vida e a dignidade de outra criatura viva. O filósofo Albert Schweitzer enuncia isso perfeitamente: “o erro da ética até o momento tem sido a crença de que só se deva aplicá-la em relação aos homens”. A solução para esse problema só pode ser sequer pensada quando o ser humano abandonar o centro do mundo para dar espaço a uma nova perspectiva não-antropocêntrica.

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