terça-feira, 1 de março de 2011

I Encontro Latino Americano de Estudantes de Letras

Identidade e Integração nas Letras da América Latina
Chegada dos(as) estudantes ao I ELAEL e Mesa de Abertura
Foto de Adriana Bertolucci

Um sonho, uma meta, uma utopia, um objetivo, uma loucura... É vasta a lista dos diferentes adjetivos que podem caracterizar o I ELAEL – 1º Encontro Latino Americano de Estudantes de Letras , que aconteceu na Universidade de Brasília de 6 a 12 de fevereiro de 2011. Primeiro veio um olhar para o além: buscar a integração entre estudantes de Letras da América Latina. Depois, em setembro de 2009, a plenária final do V Encuentro Nacional de Estudiantes de Letras (ENEL Argentino), que aconteceu na Universidade de Comahue em Neuquén, aprovou, por aclamação, a construção do I ELAEL. No mesmo ano, durante o XXX CoNEL (Conselho Nacional de Entidades de Letras), ocorrido em dezembro na UEG de Anápolis, a construção do I ELAEL foi aprovada. Em 2010, a plenária final do XXXI Encontro Nacional dos Estudantes de Letras (ENEL Brasileiro), na Universidade Federal da Paraíba, também foi favorável à realização do encontro, que já havia iniciado a sua mobilização.

O I ELAEL, diferente dos fóruns tradicionais da Executiva Nacional dos Estudantes de Letras (ExNEL), foi um encontro que buscou trazer um acúmulo acerca da América Latina aos(às) estudantes de Letras, e teve convidados não apenas do Brasil, mas de outros países da América Latina. Mais de 1,5 mil estudantes estiveram na UnB para participar desse primeiro passo que foi dado. Outro diferencial do encontro foi a proposta de vivência, em que mais de 76 estudantes estiveram no Santuário dos Pajés, última aldeia indígena da capital, localizada em uma área do Distrito Federal que foi destinada à criação do setor habitacional Noroeste, ameaçando a permanência desta comunidade onde vivem há mais de 40 anos. Para os(as) participantes, foi uma experiência única de contato direto com o movimento e a realidade de indígenas no Distrito Federal.

Embora a maior participação tenha se dado por parte de estudantes brasileiros, mas ainda contando com a presença de alguns estudantes de outros países, o trabalho não foi completamente em vão: houve erros e acertos por parte da Comissão Organizadora e das entidades envolvidas, mas a semente dos(as) estudantes de Letras da América Latina foi plantada, sendo, inclusive, eleita a sede do II Encontro Latino Americano de Estudantes de Letras: o Peru. Foram mais de 50 convidados nacionais e cerca de 20 internacionais, entre escritores, poetas, professores e lingüistas, representando 8 países da América Latina.

A Comissão Organizadora, composta por estudantes de Letras e de outros cursos de várias instituições do país reconhece algumas falhas de comunicação que ocorreram durante o encontro, como a divulgação atrasada da programação e outras complicações com a disponibilidade de espaço físico, e se desculpa publicamente por esses incidentes que também foram ocasionados pela desarticulação gerada pelos dois meses de greve enfrentados pela Universidade de Brasília, ainda em período letivo durante os primeiros dias do Encontro. Entretanto, o apoio dado pelo Instituto de Letras, pela Reitoria, pela Prefeitura do Campus e pelas demais unidades da Universidade de Brasília foram de fundamental importância para a concretização do I ELAEL, um passo primordial para a articulação das Letras na América Latina, e espera-se que novos frutos para o Movimento Estudantil de Letras sejam colhidos a partir desse primeiro encontro.

Mais sobre o I ELAEL: http://www.elael.org

Durante a vivência no Santuário dos Pajés
Fotos de Larissa Nogueira de Oliveira


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Vivendo o turismo

Em frente à W3, no setor de Rádio e Televisão Norte de Brasília, é possível identificar três mesas e um assento de dois lugares dispostos nos cantos de uma sala, mais especificamente da sobreloja 28 do edifício Radio Center, como um cartão de visitas de uma agência de turismo. Apesar da simplicidade, que contrasta com a espalhafatosa sobreloja 27, sede da Superintendência Nacional da IDB - Igreja de Deus no Brasil, alguns adesivos colados na porta identificam claramente o nome da agência: Global Turismo.

Há oito anos, Carmen Gloria Cárceres Pineda, 49 anos e natural de Santiago, no Chile, foi convidada pelo amigo Nivaldo Freitas para trabalhar na Global Turismo. Carmen se encarrega de quase todo o trabalho da agência: das excursões, da venda de pacotes de viagem, dos relatórios das passagens e companhias aéreas, do caixa e de toda a parte de escritório. A conversa é interrompida por diversos telefonemas, o que não impede que, entre uma ligação e outra, ela se disponha a falar sobre sua vida e seu trabalho. Apesar de à primeira vista parecer uma pessoa fechada, não é preciso mais do que um “bom dia” para reconhecer a simpatia sem tamanho da Chilena. O sotaque marcante e uma mistura do português brasileiro com algumas palavras em espanhol entretem o ambiente infestado com o cheiro de gordura da hora do almoço, que vem de um restaurante chinês logo abaixo.

Carmen chegou ao Brasil com 30 anos de idade, um filho na barriga e outro pendurado no colo. Como seu companheiro Juan Carlos já tinha família no país, os dois vieram tentar a vida na terra do samba depois do fracasso com um negócio próprio de Supermercados. A vontade de trabalhar com turismo partiu das viagens que Juan vazia ao Paraguai para comprar mercadorias e revender no Brasil, e de um curso para guias de turismo que apareceu no SENAC. Assim, em 1996, os dois abriram a singela agência “Carisma Turismo”. Foi destino de supermercado: ou seja, também não deu certo. Mas a chilena, equilibrada e bem mantida sobre seus pequenos pés tamanho 34, não parou por aí e continuou a trabalhar em outras agências até chegar na Global Turismo.

A principal atividade da chilena na agência é o turismo para a terceira idade. É assim que surge a pergunta informal: “quando foi que começou a se interessar por essa área?”. “Quando eu fiz a primeira excursão com a terceira idade” responde a chilena. Foi em 1998, em uma excursão para o Canadá e Nova Iorque. Desde então, Carmen trabalha com todas as áreas do turismo, mas com especialização em Terceira Idade. Tudo o que aprendeu a respeito foi na prática. “É um público a que você se dedica, faz um bom trabalho e é reconhecido”. É possível criar uma imagem a partir das palavras e do entusiasmo de Carmen quando ela fala a respeito do seu projeto de criar uma casa de repouso para idosos, trabalho de um curso de elaboração de projetos oferecido pelo Sindicado de Guias.

A satisfação fica estampada na face de Carmen quando ela fala de “seus velhinhos”. A maioria é do sexo feminino, o homem que vai viajar geralmente acompanha a esposa ou procura namorada. “Você faz um bem para a pessoa. Ali surgem relacionamentos entre pessoas de 70 e 80 anos, alguns até mais” diz a colega Paula Rejane, com quem trabalha desde 2006 e conheceu a partir das viagens com Terceira Idade. “Às vezes, ficamos competindo de quem as idosas gostam mais” brincam as duas. Ao repousar o telefone no gancho, um comentário curioso: “Mais um espião”. Apesar do meu estranhamento, rendeu alguma graça durante a explicação. Segundo ela, muitas vezes a concorrência liga para saber seus preços e comparar, então você “saca na hora”. Carmen e Paula já sabem: quem costuma ligar já é cliente, ou foi indicado por alguém. É só perceber como a pessoa fica sem jeito do outro lado da linha ao perguntarem seu telefone para retorno. Depois da troca de palavras, a despedida, os abraços e a vontade de embarcar em outra viagem, talvez uma como as dos pôsteres espalhados pela agência.